Após muito tempo de atenção aos destinos coletivos, pode-se afirmar que o indivíduo está novamente presente nas reflexões dos historiadores. Dentro dessa nova preocupação, o gênero biográfico vem ganhando espaço em estudos voltados à restauração do papel dos indivíduos na construção dos laços sociais, trazendo à tona a temporalidade onde se desenrolam as vidas humanas, sem descartar a influência do contexto maior em que os sujeitos estão inseridos. Faz-se, assim, uma "história pessoal que não tenta substituir outras formas de história . . . nem é um substituto para o estudo do comportamento coletivo, instituições e comunidades, mas sim, seu complemento". Diferentemente da biografia tradicional que priorizava demasiadamente o indivíduo,
fazendo a história dos grandes vultos, essa nova abordagem busca hoje articular as trajetórias individuais aos contextos nos quais elas se realizaram, como via de mão dupla. Nesse caso, a biografia pode desenvolver, além das interpretações sobre a época em viveu certo personagem, outras perspectivas que mostrem suas experiências particulares, passagens pitorescas de sua vida e, até mesmo, suas emoções e sentimentos mais ocultos.

Por esses motivos, a história de três portuguesas radicadas no Brasil, em épocas diversas, que se valeram da pena enquanto vivenciavam a ambigüidade que todo imigrante experimenta, é um rico campo de análise das representações específicas do processo imigratório, em que se entrecruzam as vivências abandonadas e a inevitável construção de uma identidade diferenciada.

As cartas da primeira, os artigos da segunda e as reflexões da terceira nos permitem uma aproximação com essas personagens que, ao relatarem seus pensamentos e seu cotidiano, fornecem coordenadas para uma análise, não só de sua vivência pessoal, mas das conjunturas em que viveram e do papel das mulheres naquelas sociedades.