Estudos

EMIGRAÇÃO (A) DO DISTRITO DE VILA REAL PARA O BRASIL (1901-1930) REALIDADE E PERCEPÇÕES

Isilda Braga da Costa Monteiro
Documento PDF A EMIGRAÇÃO DO DISTRITO DE VILA REAL PARA O BRASIL (1901-1930) REALIDADE E PERCEPÇÕES.pdf

Na sequência do que vinha acontecendo desde o século anterior, o Brasil foi, nas primeiras décadas do século XX, o destino preferencial dos portugueses que optaram por deixar o seu país e tentar uma nova vida no outro lado do Oceano. As estatísticas oficiais do Estado português, apesar das suas limitações não puderam deixar, na época, de notar e anotar a forte dimensão da emigração para o Brasil a que o país não podia passar indiferente.

Após ter sido utilizada como arma de arremesso pelos republicanos contra a monarquia, a emigração tornou-se, logo nos primeiros anos após 1 9 1 O, uma questão politicamente incómoda. Contudo, com valores demasiado avassaladores para ser silenciada, merece a atenção do Parlamento e do governo empenhados em a condicionar através de uma abundante legislação e em lhe apontar o dedo sempre que se procurava diagnosticar os problemas do país, esquecendo que a emigração era, também, consequência desses mesmos problemas. 

Vila Real, localizada na região do Douro, é, na primeira metade do século XX, sede de um vasto distrito que congregava mais de uma dezena de concelhos, desde os mais próximos, Santa Marta de Penaguião, Sabrosa, Vila Pouca de Aguiar, Ribeiro de Pena, Mondim de Basto e Peso da Régua, até aos mais afastados, Montalegre, Chaves e Valpaços. Familiarizada com o fenómeno migratório desde há longo tempo, é nos últimos anos do século XIX que o número dos que procuravam um futuro mais auspicioso fora de Portugal, começa a crescer de forma significativa em Vila Real. As estatísticas reservam-lhe, a esse nível, um lugar de destaque no norte do país.

No entanto, para a população residente dentro do perímetro urbano de Vila Real, essa é uma situação que vai para além dos números oficiais. A obrigatoriedade em obter, na sede do distrito, o passaporte que permitiria a saída legal do país, traz diariamente a Vila Real muitas pessoas, a maioria delas com os olhos fitos no Brasil. Provenientes de vários pontos do distrito, pouco habituados ao desassossego da vila comparativamente a pacatez da sua aldeia, os homens e as mulheres que aí acorriam para materializarem. o sonho de uma nova vida fora de Portugal através da obtenção de um passaporte, não poderiam passar desapercebidos à população local. Embora sem a força cénica e o dramatismo que caracterizava as partidas dos vapores em Leixões, a presença desses homens e dessas mulheres traria certamente alguma animação acrescida a Vila Real, mas deixaria também alguma inquietação sobre o futuro da região.

Dessa forma, seria nas sedes de distrito do norte do país que, nas primeiras décadas de Novecentos, a questão da emigração ganhava, a cada dia que passava, uma dimensão de contornos cada vez mais nítidos. Nas épocas de maior afluência, a aglomeração de pessoas junto aos Governos Civis, instalados no centro das localidades, aguardando para serem atendidos dava-lhe uma inevitável visibilidade.