Estudos

IMIGRAÇÃO PORTUGUESA E CASAMENTO: UM OLHAR A PARTIR DO GÊNERO , DA GERAÇÃO E DA ATIVIDADE (BELÉM, 1908-1920)

Cristina Donza Cancela
Daniel Souza Barroso
Documento PDF IMIGRAÇÃO PORTUGUESA E CASAMENTO UM OLHAR A PARTIR DO GÊNERO , DA GERAÇÃO E DA ATIVIDADE (BELÉM, 1908-1920).pdf

A paraense Maria de Nazaré Martins entrou, no Juizado de Órfãos, com uma ação de Suprimento de consentimento para casamento contra sua mãe, a portuguesa Isaura de Jesus Martins. Por ser menor de idade (a maioridade no período se dava a partir dos 21 anos), Nazaré necessitava do consentimento paterno para casar-se. Mas, por ser órfã de pai, o consentimento deveria ser dado por sua mãe. Na ação, ela argumentava que sua mãe não autorizava seu casamento por motivos frívolos, dentre os quais, um se destacava: o fato de seu pretendente não ser de origem portuguesa como sua mãe e, muito possivelmente, seu pai. Em sua inquirição, Isaura declarou não estar mais interessada no casamento de sua filha, que para ela havia "morrido". Além disso, pedia também para não ser mais incomodada com o assunto.

Embora esse auto seja de 1930, abrangendo um período um pouco posterior ao que iremos trabalhar neste artigo, ele nos ajuda a pensar o casamento entre os portugueses que
viviam em Belém, nas duas primeiras décadas do século XX, suas escolhas e preferências claramente esboçadas pela mãe de Maria, ao desejar que a aliança de sua filha ocorresse com um conterrâneo.

Aparentemente uma história específica, o embate entre Nazaré Martins e sua mãe pode nos ajudar a pensar determinadas questões associadas aos casamentos ocorridos em Belém, que envolviam portugueses. Faz-nos pensar, por exemplo, até que ponto pode ter prevalecido à homogamia nas alianças matrimoniais, envolvendo os imigrantes portugueses. A partir das próximas páginas procuraremos responder a essa e outras questões, ao definirmos o perfil dos casamentos envolvendo portugueses, ocorridos em Belém, entre 1908 e 1920, por meio da análise serial de 809 registras civis de casamento, onde ao menos, um português era cônjuge. Nossas discussões incidirão na tendência à endogamia ou à exogamia; na inserção no mercado de trabalho e nas a,tividades desenvolvidas; na idade e no estado civil ao casar.