Estudos

MANOEL DOS SANTOS, O PAJÉ DE PORTUGAL: IMIGRAÇÃO E CONTATOS CULTURAIS EM BELÉM DO PARÁ NO FINAL DO SÉCULO XIX

Aldrin Moura de Figueiredo
Documento PDF MANOEL DOS SANTOS, O PAJÉ DE PORTUGAL IMIGRAÇÃO E CONTATOS CULTURAIS EM BELÉM DO PARÁ NO FINAL DO SÉCULO XIX.pdf

Sessão magna-apreensão de burundangas. Assim, o j ornal Diário de Notícias, um dos mais lidos em Belém na década de 1 880, anunciava a prisão de um paj é e seus paramentos rituais na noite do dia 31 de novembro de 1 886. O termo utilizado pela imprensa - burundangas - para qualificar a ação da polícia era usual no século XIX e, quase sempre, como sinônimo de "coisas imprestáveis", mixórdia, confusão, embrulhada, trapalhada. A etimologia do termo não deixa enganar. Do espanhol burundanga, o vocábulo significa, além do que já citei, palavreado confuso, algaravia, cozinhado malfeito, algo suj o e repugnante. Porém, segundo Aurélio Buarque de Holanda, na Amazônia brasileira é comum o uso da expressão como analogia às "mezinhas empregadas na feitiçaria". Raymundo Moraes registrou em seu dicionário amazônico, o termo berundanga como sinônimo de feitiço, puçanga, ou "beberagem usada para desgraçar o inimigo".

A notícia do j ornal no dia 1 de dezembro de 1886, traria novidades sobre o caso o jornal Diário de Notícias tinha ampla circulação e notícias do gênero eram esperadas pelos leitores do diário. Dessa feita, se tratava da prisão de um paj é na Estrada de Nazaré, região com bonitas rocinhas, nas imediações do centro da cidade. O prosaísmo da nota talvez chamasse alguma atenção pelo fato de o paj é, envolvido na história, ser português de nascimento e ter se transferido para o Pará, já em idade adulta. Manoel dos Santos, como era chamado, havia nascido em Lisboa e depois imigrado para o Pará e aqui constituído família com uma mulher chamada Antonia d'Almeida, provavelmente também de origem portuguesa. Difícil precisar, mas a própria gazeta informava que, àquela altura, já se tratava de um homem de "meia idade". Tudo indica que por aqui aprendeu o ofício da pajelança, sendo amplamente conhecido na cidade por amigos e inimigos. Vivia da venda de flores na cidade, durante o período da tarde, e, durante a noite, recebia os clientes interessados em resolver os problemas do corpo e do espírito.