Estudos

BARRADAS DE CARVALHO NAS LENTES DA PIDE

José Jobson de Andrade Arruda
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Com 22 anos de idade, em 1942, Joaquim Barradas de Carvalho assina a ficha de adesão ao Partido Comunista Português, incumbindo-se da logística, extremamente complexa é perigosa, de organizar a distribuição do jornal Avante, impresso nas tipografias clandestinas do partido. Mas é somente em 13 de agosto de 1952, dez anos após, que a Pide (Polícia Internacional e de Defesa do Estado) registra em seus boletins de ocorrência a primeira informação sobre seu caráter e desempenho político, afirmando que "moral e politicamente nada se apurou em seu desabono", ressalvando, apenas, em anotação datada de 2 de setembro do mesmo ano, que Barradas "assinou as listas do MUD em 1 945",' fato revelador da capacidade dos militantes do partido em desenvolver sigilosamente suas atividades, bem como de uma relativa inépcia do aparelho repressor, que se revela menos competente do que, a priori, se poderia imaginar.

Duas cartas localizadas por Alberto Arons de Carvalho nas pastas da Pide/DGS em seu nome e em nome de sua mãe, Ruth Arons de Carvalho, revelam, de um lado, os métodos escusos para se obter informações e, de outro, o fato de que Joaquim Barradas de Carvalho encontrava-se em plena atividade em março de 1947, tanto que suas correspondências, por serem visadas, eram remetidas para sua mãe que, depois, as repassava para a nora. Neste caso, como se pode ler nas cartas reproduzidas em anexo, o material foi apreendido pela Pide junto a Jorge Borges de Macedo.

Entre seu primeiro ca.samento -1 com Ruth Arons, em 1 945 -, e o segundo - com Maria Margarida Cambon Brandão Barradas, em 1951 -, atraiu com menor intensidade o olhar dos órgãos de informação, por ter se deslocado para Paris, onde frequentou a elite da intelectualidade francesa, especialmente a dos historiadonis, dando, quem sabe, aos órgãos de segurança, a falsa impressão de que passara a privilegiar sua carreira acadêmica, secundarizando a militância política. Talvez por isso, os registros da Seção Central somente voltem a anotar suas atuações políticas em 1 957, quando sua movimentação passa a merecer maiores cuidados. Em atenção ao ofício do Diretor da Pide, datado de 5 de agosto de 1957, solicitando informações urgentes sobre o indigitado, a Seção Central informou que ele "foi um dos signatários de um documento no qual, durante a campanha eleitoral de outubro de 1 957, alguns oposicionistas se manifestaram contra todas as formas de censura", e mais, que "este documento fora, depois, publicado na França, no folheto Nouvelle du Portugal, no qual se afirmava como intróito Os intelectuais portugueses tomam parte no combate pela democracia e por uma cultura nacional progressista'. Continuamente, têm eles feito prova do seu descontentamento contra o regime salazarista e sua política reacionária e obscurantista'.