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INDOLENTE OU LABORIOSO? A CONSTRUÇÃO DE SENTIDOS NA E/IMIGRAÇÃO PORTUGUESA PARA o AMAZONAS

Paulo Marreiro dos Santos Júnior
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Desde a colonização, e mesmo depois da Independência do Brasil (1822), a e/imigração portuguesa para o estado do Amazonas, no norte do país, foi majoritária. Diferente de outras regiões brasileiras que tiveram maior incidência de imigrantes de outras nacionalidades.

Essa presença portuguesa - em maior medida - deixou reflexos na historiografia e nas memórias e imaginário das populações do Amazonas, principalmente nas de Manaus, capital do estado.

Na parca historiografia local/ os portugueses têm sido ressaltados como ícones da tríade trabalho, poupança e ascensão social, associados também a outros símbolos como os de "hábitos sofisticados",' civilizadores, povoadores, robustos, laboriosos, disciplinados, representações grafadas pela História, corroborando com a ideia de que o português era o que havia de melhor para ocupar e fazer progredir a região.

De forma semelhante, a memória, a rememorização entre gerações e o senso coletivo têm reforçado o ideário da histórica presença portuguesa na região: do labor intenso, do comedimento, do investimento vitorioso, do acúmulo patrimonial.

Mas, o que tem sido hegemônico na historiografia e senso locais, é produto de construção de sentidos ou de "verdades" discursivas historicamente formuladas?

Mesmo o sentido de "verdade" é "fruto de um processo coercitivo e produtor de efeitos regulamentados pelo poder: O que se entendeu enquanto fato inquestionável de uma época foi expresso na ilusão de domínio da origem de um discurso, determinado também historicamente, produzindo sentidos com consequências no passado e no presente.

O enfoque dado à e/imigração portuguesa para a região, no âmbito local, vem sendo formado por modelos discursivas, estabelecendo sentidos hegemônicos, quase uníssonos, pautados em mecanismos de consentimento e de proibição, às vezes de imposição, determinando o que é e o que não é permitido no discurso, o que será ou não será afrontoso à comunidade portuguesa
e seus descendentes da região.

A produção de sentidos, resultado da experiência da e/imigração portuguesa para a região, vem deixando suas marcas, pois foram construídos em contextos de disputas de poder, de desejos, refreando outras "verdades" de intuitos similares.

O discurso é também experiência, é ato, acontecimento, não é neutro. A produção do discurso e do sentido se dá na "relação".

Sob esse viés teórico, objetiva-se analisar outras "verdades", outros "discursos" e "sentidos", tendo por base outras "relações" em outros contextos, entendendo que a historiografia e o imaginário coletivo locais são um dos caminhos. Há outros que, a respeito da e/imigração portuguesa, foram na contramão do discurso do laborioso, disciplinado e civilizador.

Similitudes à indolência, ao desregramento, à covardia, ao desalento, à malandragem e ao descompromisso foram traçadas sobre o mesmo processo histórico. Discursos de origens diferentes, de além-mar, objetivando finalidades díspares.