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ALTERAÇÕES E RIXOSOS: COLONOS PORTUGUESES NUMA VILA MILITAR NO PARÁ IMPERIAL

Eliana Ramos Ferreira
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As motivações que impulsionaram a mobilidade de grupos consideráveis de portugueses são diversas, ao longo do tempo desses deslocamentos, e foram tanto por razões estruturais quanto conjunturais. Uma delas relaciona-se com as políticas dos governos brasileiros para esse trabalho, notadamente em meados do século XIX, que incentivaram a fixação de novos colonos [...] que se propusessem ao cultivo da terra.

Uma dessas políticas se fez necessária quando pressões internas e externas sinalizavam a mudança no tipo da força de trabalho utilizado na produção, o que colocou em xeque a extinção formal do então chamado infame tráfico negreiro, em 18503. O problema da substituição da mão de obra escrava na organização do trabalho rascunhava um quadro de mudanças estruturais que se apresentava na organização da produção, bem como em outros níveis da organização social do trabalho no império, pedindo medidas e decisões políticas objetivando uma solução compatível com tão profundo problema. A extinção do tráfico de escravos levou o Estado Imperial à procura de fontes alternativas de mão de obra. 

Nesse sentido, uma das vias defendida por significativa parcela do governo Imperial, afinada com as ideias liberais, foi o desenvolvimento de uma política imigrantista com o estímulo a projetos de colonização visando a entrada massiva de emigrantes, preferencialmente europeus. Esse outro momento de colonização está intrinsecamente conexo ao problema da crise da mão de obra escrava no Brasil.

Por outro lado, o fim do tráfico trouxe impacto também na produção do país, assim, a criação dos núcleos coloniais constituiu-se em ações e políticas governamentais que buscavam atender as demandas relacionadas também ao problema da produção e consumo. Tornou-se tão premente a questão da substituição do trabalho escravo pelo trabalho livre e assalariado, que o governo optou pela formação de núcleos coloniais oficiais onde os imigrantes pudessem se instalar.

Uma das modalidades de núcleos pensadas foram as colônias, estabelecidas pelo governo; e a outra forma, as colônias organizadas por particulares ou associações. No Pará, foram criadas três colônias: as Vilas Militares, destinadas à colonização Pedro Segundo; São João de Araguaya e a de Óbidos. O presente trabalho pretende refletir sobre a experiência de colonos portugueses na Vila Militar de Óbidos, na província do Pará imperial.